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O Território, pr888instantplay -emiado no Emmy, estourou a bolha

A história de Bitatê-Uru-Eu-Wau-Wau e Ivaneide Bandeira,888instantplay - a Neidinha Suruí, contada no documentário O Território, ganhou o mundo, com uma temporada de exibições em vários festivais internacionais, além de vitórias em premiações. O reconhecimento mais recente aconteceu no último domingo (07), em Los Angeles, Estados Unidos, quando o filme foi premiado na categoria “Mértio excepcional na produção de documentários” no prestigiado Emmy Awards. Na cerimônia de premiação, além de Neidinha e Bitatê, subiram ao palco a liderança indígena Txai Suruí, que assina a produção, e o diretor do filme, o norte-americano Alex Pritz, além de outros membros da equipe. Txai é filha de Neidinha e do líder histórico de seu povo, Almir Suruí, e vem se destacando por sua proeminência como porta-voz da juventude indígena do Brasil nos fóruns internacionais.

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Gravado em Rondônia, com distribuição da National Geographic, O Território ainda concorreu nas categorias “Cinematografia excelente para um programa de não-ficção” e “Melhor direção para um programa de documentário/não-ficção”. Para receber a estatueta em Los Angeles, Neidinha teve que enfrentar uma verdadeira odisseia de mais de 40 horas de viagem de Rondônia até a Califórnia, com conexões em São Paulo e em Dallas, conforme ela contou à reportagem. A longa viagem foi compensada pela premiação, mas ela admite que ficou nervosa à medida que as vitórias eram anunciadas. Apesar de já ter tido experiências de participar de outras cerimônias da indústria do cinema, era a primeira vez que presenciava o glamour de Hollywood.

“Concorremos em três categorias com filmes muito bons. Concorremos na categoria de direção e não ganhamos. Já eram quase três horas de premiação. Eu já estava cansada achando que a gente não ia ganhar nada, porque alguns filmes levam três prêmios, outro levou oito e pensei: ‘um filme feito por indígenas, em Rondônia, que o povo confunde com Roraima, vai ganhar?’. Eu já havia desistido. Na minha cabeça a gente já estava feliz por estar lá, só por ter sido indicado já estava ótimo”, relata à Amazônia Real, em conversa nesta quarta-feira (10).

Só que a “maratona”, em aviões e também de espera na cerimônia, terminou com o anúncio de que o documentário O Território havia conquistado o prêmio mais importante de todos. “Quando anunciaram a gente não acreditou. Ficamos chocados. Não conseguimos chorar porque estávamos em choque”, lembra Neidinha. 

Indigenista histórica na defesa dos povos indígenas, Neidinha conta que a equipe decidiu escolher pessoas diferentes para discursar em cada uma das categorias em caso de vitória e ficou a cargo dela o discurso se O Território conquistasse a categoria “Mérito excepcional”. 

“A gente tinha 28 segundos para falar. Falei sobre a importância desse filme para a nossa luta, pela luta dos povos indígenas de todo mundo, em especial do Brasil, de Rondônia; e da importância deste prêmio para o cinema brasileiro, para o cinema indígena”, recorda.

O documentário O Território [hoje disponível na plataforma de streaming Disney+] já ganhou uma infinidade de prêmios desde o seu lançamento. Antes do Emmy Awards, um dos mais importantes foi no Festival Sundance, no ano passado, quando a obra conquistou o Prêmio do Público e um Prêmio Especial do Júri.


Neidinha com o diretor do filme, Alex Pritz e demais membros da equipe na cerimônia em Los Angeles / Divulgação

No caso do Emmy, o Prêmio de Mérito Excepcional em Cinema Documentário tem como foco homenagear o impacto social da obra, bem como a inovação e o domínio da técnica cinematográfica.  

Para Neidinha, as várias premiações, inclusive o Emmy Awards serviu para “furar a bolha” de trabalhos com temáticas indígenas.

“É uma vitória da luta da gente, da luta por direitos humanos e pela natureza, pela defesa da floresta contra o desmatamento, é a luta contra o marco temporal. A gente chegou muito longe. A gente vê pessoas dentro do avião conversando sobre o filme, querendo saber sobre a nossa luta. Pessoas que a gente nunca tinha visto falando sobre a nossa causa e comemorando. Eu desço [em Rondônia] e uma senhora sabe, no meu Estado [que é um estado de extrema direita] pedindo para tirar foto, comemorando junto com a gente. Às vezes, filmes como esse atingem um nicho, uma bolha, mas O Território fez a gente furar a bolha”, comemora a ativista.

Entre outros produtores do filme está o cineasta Darren Aronofsky, diretor do recente A Baleia, pelo qual o ator Brendan Fraser recebeu o Oscar de Melhor Ator em 2023.

Indígenas fizeram as filmagens


Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau Juma durante as filmagens / National Geographic/ Divulgação

O filme narra a história de luta e resistência dos indígenas da etnia Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia, pela defesa do território e na luta contra invasões, conflitos e ameaças de grileiros e fazendeiros. A narrativa mostra situações de apreensão dos indígenas em situações de perigo à floresta e às comunidades, mas traz também momentos de lazer e rotina da aldeia Uru-Eu. Alguns dos momentos mais marcantes é quando aparece o líder Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que acabou sendo assassinado em abril de 2020.

As gravações ocorreram em um dos períodos mais sombrios da história recente, durante o governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) que implementou no país uma política anti-indígena, e que prometeu e cumpriu a promessa de não regulamentar um território indígena sequer, durante seu governo.

Foi durante a gestão de Bolsonaro que explodiram o número de invasões em territórios indígenas em todo o País, além do que foi registrado um dos maiores desmontes de políticas ambientais que se tem notícia no Brasil. 

Para completar, a obra foi filmada durante a pandemia do novo Coronavírus, que vitimou só no Brasil, 708.638 pessoas. E como não havia permissão para entrar nos territórios indígenas durante este período, foram os próprios indígenas que fizeram as filmagens.

Neidinha diz à Amazônia Real que durante a produção do documentário, não houve contato direto com os indígenas. Os equipamentos para as filmagens eram deixados na divisa do território em sacos plásticos e tudo era desinfetado para evitar o contágio pela Covid-19. Os indígenas recebiam orientação online sobre como operar os equipamentos, além de receber instruções sobre o que filmar. “O Bitaté falou: ‘Olha, a gente sabe fazer melhor que isso, então vamos fazer do nosso jeito’,” revela Neidinha. O resultado foram imagens surpreendentes.

O Território narra ameaças e pressões sofridas pelos indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, que em um cenário de total abandono por parte do poder público, resolvem, eles mesmos, criar um grupo para defender o próprio território, de ameaças externas.

Os protagonistas da história são o jovem líder indígena Bitaté-Uru-Eu-Wau-Wau, que é quem lidera o grupo indígena na defesa do território; e a ativista Neidinha, de 63 anos, a quem Bitaté considera como a sua segunda mãe, já que ela o conhece desde quando ele era apenas um bebê.  

Neidinha lembra que nem ela ou Bitaté imaginavam que o documentário fosse chegar tão longe. “A gente rachava o bico [expressão que significa ‘achar graça’] no início. O Bitaté me disse certa vez: ‘Mãe, eu achava que o povo nem ia nos assistir. Achei que não ia dar em nada o nosso filme’. A gente achava que seria só mais um documentário, que para nós seria importante, mas talvez não para o resto do mundo. E foi legal porque a National Geographic comprou o filme e a gente ficou de cara [espantados]. Andamos por vários países apresentando o documentário, palestrando, falando sobre a causa indígena e foi em pleno período Bolsonaro e de pandemia”, pontua Neidinha. 

Celebração


Txai Suruí; Bitaté Uru-Eu--Wau-Wau-Juma; Ivaneide Bandeira, a Neidinha Suruí, e diretor do filme, Alex Pritz com membros da equipe na cerimônia em Los Angeles / Divulgação

Txai Suruí, em uma postagem no seu Instagram, disse que a vitória no Emmy foi a “celebração e reconhecimento das vozes e das narrativas em defesa dos territórios, da resistência e luta que permeia a vida dos povos indígenas do Brasil”.

O Território tem a direção do cineasta norte-americano, Alex Pritz, que comemorou e muito a conquista do Emmy. “Receber o reconhecimento de nossos pares, ao lado de um grupo tão incrível de indicados, é uma honra inacreditável”, disse Pritz, em matéria publicada no site Deadline. “Partilhamos este prêmio com comunidades de todo o mundo que se levantam em defesa da habitabilidade contínua do nosso planeta e lutam por um futuro melhor”.

“Ganhamos, meu povo merece principalmente minha comunidade, meu povo Uru-Eu-Wau-Wau, minha associação de Jupaú, trabalho que não é só meu, é nosso! Estou muito feliz por isso, representando minhas lideranças e é isso. Vencemos e tem mais por vir futuramente”, disse Bitaté-Uru-Eu-Wau-Wau, em sua rede social.

Como filho de mãe do povo Juma e de pai do povo Uru-Eu-Wau-Wau, Bitatê divide-se entre dois territórios, entre Rondônia e sul do Amazonas. Ele é neto de Arukã Juma, um dos últimos de sua etnia. Apesar de sua pouca idade, ele se tornou liderança de seu povo. Em 2021, como parte do grupo de indígenas que fizeram parte do Blog Jovens Cidadãos, ele escreveu sobre a relação com seus avós. O Blog Jovens Cidadãos é um projeto criado pela Amazônia Real, iniciado nos anos de 2018 e 2019, e que resultou em uma seção no site da agência, na qual as próprias jovens lideranças narravam sua realidade.

Da leitura que trouxe inspiração para a vida


Neidinha com o diretor do filme, Alex Pritz, e membros da equipe na cerimônia em Los Angeles / Divulgação

Neidinha é uma das fundadoras da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, uma das organizações mais reconhecidas do país em defesa dos povos indígenas. Ela nasceu no Acre e chegou em Rondônia com pouco mais de seis meses de vida. A mudança de estado se deu porque o pai dela, seringueiro, começou a trabalhar em um seringal dentro do que hoje é a terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau.

Ela saiu do território aos 12 anos para estudar. Antes disso, aprendeu a ler em revistas sobre o velho oeste americano. Para ela, o retrato daquelas histórias se repete, de certa forma, no Brasil de hoje.

"Na literatura, os indígenas sempre eram mortos e os coronéis eram os 'heróis' para o avanço do Oeste, o que para mim é muito parecido com o avanço da colonização do Brasil, o avanço na Amazônia, não é diferente do faroeste americano", opina.

A ativista conta que o sucesso de "O Território" trouxe mais trabalho e também mais ameaças. Apesar disso, Neidinha ressalta que o filme não cria heróis ou vilões. "Eu não queria um filme onde a gente fosse herói e o outro lado bandido. A gente queria a realidade. O filme consegue ver tanto a pressão em cima do povo indígena quanto a pressão em cima do pobre que é usado, manipulado para grilar terra para o grande ir tomar", analisa a ativista, para quem a película serviu para, no fim, reforçar a ideia de que ela está na direção certa.

"Fortaleceu em mim a certeza de que não estou errada na minha luta, porque tem momentos que você está tão ameaçado, tão pressionado, que você pensa em maneirar, mas a reação das pessoas em todo o mundo fortaleceu as nossas convicções", finaliza.

O Emmy Awards tem cerimônias realizadas em separado. Na etapa de domingo passado, a edição é chamada também de Creative Arts Emmy Awards, que premia categorias técnicas e especiais de séries e programas, mas que também inclui participações especiais. A edição final do Emmy Awards de 2024 acontece no próximo dia 14.


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